Show das mascarás

História de Vinicius Diniz Rosa© -  Show das mascarás

   Certa noite, resolvi ir ao teatro, na porta do teatro estava duas pessoas encapuzadas, segurando uma foice e entregando para cada pessoa que ali, que fosse assistir a tal peça, uma mascará, para que a vestisse, eu achei isso estranho, resolvi comprar o ingresso e ver o que lá dentro tinha.
   Peguei minha mascará, coloquei, sentei em minha poltrona confortável e passado 15 minutos, as luzes se apagaram, um breu imenso, uma luz se ascendeu e iluminou o ator que descia no meio da plateia em direção ao palco, ele descia cambaleando, fraco, olhava todos com medo, estava vestido com um terno surrado e uma cartola surrada, olhos bem cansados e fitava, olhava cada um na plateia com uma desconfiança descomunal.
   Ele chega ao palco, parecendo um corcunda, se vira para a plateia e grita em silêncio, foi uma das coisas mais ferozes que eu vi na vida, ele grita com todo o corpo e desmaia, mas não sai um som, tudo em silêncio. A plateia aflita tentando entender o que se passa se pega de surpresa ao ver o ator já de pé e uma tela em branco no palco, uma tela de pintores. O ator olha para a plateia, assisti a plateia e começa a falar com um pouco de sarcasmo, ironia, medo, pavor e mais alguns sentimentos que não me lembro das palavras para descrever, o seguinte monólogo:
 - O que pintar? O que enfiar nessa maldita tela branca?! O que retratar? Rabiscos... Realismo, naturalismo, abstratos, o que for, o que pintar? Eu vejo em minha frente, assisto em minha frente a peça da vida, mas nela sou incapacitado de extrair algo para pintar nessa tela em branco, que por si só já é a arte mais perfeita  pois retrata com perfeição esse nada, essa falta de identidade grotesca  em minha frente, poderiam arrancar lhes as mascarás, mas continuariam mascarados, tecidos e escondidos na teia do bom mocismo e da boa intenção... Inseto de pecados, puros heróis que ainda choram e tentam compreender o mal do mundo!  Tolice... Nada mais, relativizaram tudo, inventaram desculpas a tudo! E ainda tentam por tentar, com a mesma formula fracassada, salva-los do ócio, do ódio e de todo o mal do mundo e assim me pego, acuado, limpo e tão sujo, enxergando apenas esses sorrisos falsos e mascarados, que nada amam, que nada odeiam, que nada são, que nada serão! E assim eu me pergunto! O que pintar nessa tela?
    Nada – ele bateu na tela – Nada! – Ele bateu na tela – Nada! Pois essa tela já é perfeita, ela já é a mais pura arte e já retrata com perfeição a vida lá fora! A vida lá fora e aqui dentro. Nada! Isso é o que pinto, pois não consigo enxergar no mundo, nas pessoas ou em qualquer coisa algo a ser retratado, morreram! Morreram estando vivos! E ainda não possuem a coragem de se matarem! Mas estão todos mortos, escondidos atrás das mascarás, forçando um sorriso, um amor que não me chega, que eu não sinto e ainda me pregam com brilhos nos olhos a salvação, o social ou o que for! Mas não passam de hipócritas acuados com vergonha de serem o que cada um é! E isso a tela vazia em branco, sem tinta sem bosta sem belezas é o retrato mais que perfeito dessa podridão! E quem culpar? E quem culpar? Ora quem, si mesmo, si mesmo, si mesmo! Pois como querem ser heróis, se são tão presos por correntes imaginárias, e nem conseguem se salvar! 
    Mataram a arte em nome da arte, pois tiraram dela a liberdade, vendendo há a ideologias, criando uma arte propaganda, muito obrigado comunistas e ainda querem arranjar culpados – Ele riu -  mas eu digo, somos nós artistas que vendemos nossa liberdade, nossa consciência ao falso heroísmo, ao falso moralismo e ao bom mocismo!
    Ele gritou, as luzes se apagaram a tela pegou fogo, e em cima de um pedestal frouxo, sujo impuro, como um maestro o ator conduziu uma ópera mortífera e sangue caía sobre a plateia! Todos ficaram horrorizados, o ator, cambaleando desceu do palco, uma luz o acompanhou até a saída do teatro, ele olhou para a plateia, chorou e saiu, as luzes se apagaram de vez, tudo ficou escuro, tudo ficou escuro... Ninguém sabia o que fazer, passou meia hora, uma hora, o povo começou a ir embora, xingando e esbravejando contra o que acabará de acontecer, minha consciência pesou e eu não conseguia levantar daquela poltrona.
  Me levantei, sujo de sangue, com minha mascará no rosto e o show fui eu e minha culpa tão severamente jogada na minha cara, saí e estou aqui, pronto para me dar um fim.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

História de Vinicius Diniz Rosa© -  Show das mascarás