Procurar pode, achar é outra história...

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Laços

  História de Vinicius Diniz Rosa© - Laços

- Por que está chorando meu avô?
- Por que? Eu não sei - Respondeu o avó, sabendo sim o motivo.
- Mas vovô, foi o senhor mesmo que disse, que sempre choramos com um motivo, seja ele alegre ou triste, bom, mal, pode falar com seu neto. - O neto encosta e tranca a porta do quarto de seu avô - Pronto agora ninguém irá nós incomodar, pode falar.
 - Eu choro, pois eu não acredito que consegui ter um neto... E... Esquece...
 - Vovô?
 - Pode ir viver seu dia, não quero lhe atrapalhar, deixe eu aqui, estou velho, e você é jovem, não perca tempo comigo, viva...
  Interrompendo seu avô, o neto diz:
  - Não! Não está me atrapalhando em nada, me conte tudo, tudo, eu quero ouvir o senhor, até suas lágrimas secarem.
  - HAHAHAHA... É engraçado, como pode um homem como eu, ter um neto tão bom.
  - Não fale isso, o senhor é bom, ajudou a construir tudo que temos, é forte, um exemplo, não merece chorar, merece rir, então conte, diga, por favor...
   - É esse o motivo, eu ajudei a construir tudo isso, e agora estou em um quartinho, doente, caindo aos pedaços, apenas com comida, e roupa lavada, uma tv velha, que não passa nada, só coisas repetidas, meus livros, ahahaha, também não satisfazem, já li, reli, eu não aguento mais, fico aqui, enquartelado, olhando o teto! Tinha tantos amigos, a família era grande, continua imensa, mas só passam aqui, para pedir uma benção, uma porra com a benção - esconde o rosto com as mãos, e pedi perdão a Deus - Cansa, cansa, é muita ingratidão.
   - Vovô, mas eu estou aqui.
   - Hoje, só hoje... Meu neto, eu o amo, mas o que adianta todo esse desabafo, o que adianta, o tempo não volta, meus erros, continuam erros, e meus acerto, ahahaha, meus acertos, ninguém lembra, sua mãe, ela me trata bem, é uma ótima nora, meu filho, onde está? Passando pelo o corredor, indo de lá para cá, e quando olha aqui dentro, faz uma cara, e deve pensar, "Que velho maldito, só dá despesa", não o culpo se pensar isso, pois é só mesmo, olha como estou! Nem a morte aparece! E o pior, é que todos os dias que sumia, estava trancado fazendo horas extras, para enfiar comida na guéla dele, para erguer cada parede, e cadê?
   - Eu não...
   - Não precisa falar, só fique em silêncio, e escute a conversa através das paredes...
   O silêncio se dava, e ao fundo, baixinho, se escutava uma voz esbravejando:
   "E esse velho desgraçado que não morre, é o convênio dele que tem que pagar, é a comida, é a luz que gasta, o pior é que ele sempre foi tão sovina, um pão duro desgraçado, que nunca tinha nada para dar, só desgosto, só desgosto!"
    - Escutou - disse o avô ao seu neto - Prestou atenção, viu, é isso que eu estou falando, eu sou o sovina, o maldito, desgraçado, um péssimo pai, que não ensinou nada ao seu filho, só enfiou comida na guéla dele, só o fez crescer saudável e com boa educação... Quer saber, ele está certo, antes eu fosse um pai que desse corda a suas idéias torpes, que bancasse sua loucura, assim, talvez hoje fosse tudo diferente...
     - Tudo muito pior - disse o neto abraçando seu avô.
     - Como?! - Indagou o velho espantado.
     - Meu vovô, eu sou fruto de suas ações com meu pai, devo ser grato ou não?
     - Não fale besteiras - mais lágrimas saiam dos olhos do avô - Não fale besteiras...
     - Não é nenhum besteira... Eu admiro sua história, quero ser como você, forte, duro na queda, enfrentar tudo, para chegar aonde chegou, bem, não escute as conversas duras, não chore mais.
      O coração do velho acelerou. O coração do velho parou e ele disse como um suspiro, um obrigado abafado. Seu neto percebendo que ele não mais respondia, o sacudiu, o sacudiu três vezes, ficando desesperado, ele começo a gritar:
      - Vovô! Vovô! - Mas nada vinha em resposta, então seus pais, escutando os gritos, correram ao quarto do velho, tentaram abrir a porta, mas não conseguiram, ficaram igualmente desesperados, pediam para que abrissem a porta, mas só os gritos eram respondidos - Vovô! Vovô! - E mais nada.
       Assim termina esse conto, o que vem depois, eu o anjo da morte, não sei, e nem deixo o senhor Horácio Pereira Cunha Filho, ver.
      - Mas é o meu neto! O que aconteceu com ele!
      - Nada de muito grave, descanse em paz Horácio.
      - Não! Não! Não! Eu preciso saber, por que tenho que ficar nessa agonia se já morri! Me diga, o que aconteceu?!  Por favor! Por Favor!
      - Levem no daqui...
      - Não eu preciso saber - Gritava enquanto era expulso daquela sala branca, e ao sair, viu do lado de fora, sentado, esperando, seu neto. - Mas... Não!
      - Vovô! Eu ainda quero saber suas histórias.
      - Mas, não! Você se matou! Por quê? E se isso não existisse! Não! Menino!
      - Não faz diferença, faz?
      O anjo da morte, vendo tudo de sua sala, olhou para a terra, e vendo naquela casa desolada, lágrimas e mais lágrimas, a mãe do neto de Horácio, sentada na cama do filho, lia a carta que ele havia deixado, e só tinha uma frases.
      "Mãe eu amo, você e o pai, mas eu preciso saber mais sobre o vovô."
       O anjo da morte volta o seu olhar para seu trabalho, pega o registro do garoto, e diz:
       - Pelo menos eu não precisei busca-lo, terei no dia de sua morte, alguns segundos de paz, HAHAHAHAHAHAHAHA!      

  História de Vinicius Diniz Rosa© - Laços          Fim

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